Julião Sarmento

About
Julião Sarmento nasce em Lisboa a 4 de novembro de 1948. Frequenta o curso de arquitetura na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, entre 1967 e 1974.  Inicia a atividade plástica nos anos de 1970, enquadrando-se nas práticas artísticas mais avançadas desse período. Será marcada por influências culturais predominantemente anglo-saxónicas e por uma lúcida sintonia com correntes avançadas da arte internacional. Em 1977 participa na “Alternativa Zero”, exposição que marca "o primeiro balanço dos trabalhos que em Portugal tomaram como referência as atitudes concetuais e congéneres" .
Nessa primeira etapa utiliza meios de expressão diversificados, "postos à disposição dos artistas da década pela revolução das linguagens técnicas e conceptuais". Vemo-lo realizar pinturas, filmes, colagens de materiais heteróclitos, montagens fotográficas ou encenações de textos onde coloca em jogo elementos que se tornarão "essenciais à caracterização da totalidade do [seu] discurso artístico". Sarmento utiliza dispositivos que vão da apropriação de imagens e citações literárias à fragmentação das formas, pondo-os ao serviço de um discurso plástico onde as noções de tempo, de desejo, ou a pulsão erótica, são determinantes, criando elos que unem as fases sucessivas da sua obra.
Na década seguinte irá afirmar-se como um dos artistas plásticos portugueses com maior projeção, nacional e internacional, expondo em galerias e museus de grande prestígio.
Assim, no início da década de 1980, Julião Sarmento acompanha a mudança de paradigma  – frequentemente associada ao conceito de pós-modernismo –, que determina o «regresso à pintura» (figurativa, de pendor expressionista). A sua pintura torna-se num recetáculo de imagens e modos de pintar heterogéneos. É nesta fase que participa em duas edições sucessivas da Documenta de Kassel (1982 e 1987), o que terá impacto significativo na sua carreira internacional. A partir do final da década de 1980 a sua pintura altera-se, "torna-se mais sóbria e contida, adotando uma depuração quase monacal. É o período das Pinturas Brancas, em que predomina o desenho a grafite sobre fundo branco", onde os corpos quase se desmaterializam, reduzindo-se muitas vezes a fragmentos sugeridos por suaves linhas de contorno, e onde o vemos centrar-se na representação do feminino, que transporta agora "para um novo patamar de subtileza e insinuação". Captando instantes e aspetos fragmentários, ocultando e gerindo intermitências, as suas formas genéricas de mulher (ou de outros personagens) evitam o "retrato e qualquer forma de referência direta. […] Julião trabalha a distância entre os corpos, entre as palavras, as imagens e as repetições. O corpo caído, entrevisto, parcialmente descoberto  […], pernas, saias, mesas, braços presos por cordas […] boca amordaçada, auto-estrangulamento, troncos de mulher, rasgões no vestido, um murro na garganta". "A figura quase nunca tem rosto e está quase sempre vestida […]. A sua situação e as suas ações são sempre ambivalentes, muitas vezes violentas; as linhas divisórias entre prazer e dor […] tornam-se indistintas" . É nesta fase, mais especificamente em 1997, que, nas palavras do crítico de arte Alexandre Melo, se dá a sua "plena consagração nacional ao representar Portugal na Bienal de Veneza". Trabalhando com galerias de renome em Lisboa, Porto, Londres, Berna, Madrid, Barcelona, Munique, Torino, Bruxelas, Nova Iorque, Beverley Hills, São Paulo ou Nagoya, Julião Sarmento tem construído uma sólida carreira internacional. A sua obra foi alvo de revisões globais em Witte de Witte (Roterdão, 1991), Centro de Arte Reina Sofia (Madrid, 1992), Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa, 1993, 2000). Em 2011 a Tate Modern, Londres, instalou um Artist Room com obras suas. Em 2012-2013, o Museu de Serralves, no Porto, organizou Noites Brancas, a mais completa retrospetiva até hoje realizada do seu trabalho e que lhe mereceu, em 2014, a atribuição do Prémio AICA 2012.