Júlio Pomar

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Júlio Pomar nasceu em Lisboa, a 10 de janeiro. Frequentou a Escola de Artes Decorativas António Arroio e as Escolas de Belas-Artes de Lisboa e Porto, tendo participado em 1942 numa primeira mostra de grupo, em Lisboa, e realizado a primeira exposição individual em 1947, no Porto. Enquadrava-se então no chamado movimento neorrealista, aceitando um desafio com responsabilidade artística e social. Nesses anos a sua oposição ao regime de Salazar acarretou-lhe uma estada de quatro meses na cadeia, a apreensão pela polícia política de um dos seus quadros e a ocultação dos frescos com mais de 100 m2, criados para o Cinema Batalha, no Porto. No início da década de 1950 realiza novas exposições individuais (1950, 1951, 1952). Uma pintura sua é adquirida pelo Museu de Arte Contemporânea, Lisboa (1953).
Em 1956 fundou a cooperativa Gravura, de produção e divulgação de obras gráficas, com artistas como José Júlio e Rogério Ribeiro, na qual se manteve como o grande animador até 1963.
Permanece em Portugal até junho de 1963, mês em que fixa residência em Paris. Regressará apenas de forma esporádica e só em 1983 adquirirá uma casa em Lisboa para aí instalar um segundo ateliê. Atualmente vive e trabalha entre Paris e Lisboa.
A obra de Júlio Pomar é marcada por um conjunto de obras dedicado ao tema das ‘corridas’ e ‘entradas’, nomeadamente através da representação de cavalos, corridas de jóqueis, entradas de touros e campinos. Estas são para Pomar um motivo de intensa exploração do movimento na pintura. Outro eixo importante da sua obra é o erotismo, a erupção do corpo e do sexo. O gesto e a pincelada livre são dominantes.
Até 1975, o trabalho do pintor incide principalmente no retrato, com recurso ao desenho e à pintura. Deste período destacam-se a utilização da cor saturada e o rigor geométrico. Os planos monocromáticos ocupam a quase totalidade da superfície da tela, estabelecendo o diálogo entre o vazio e a representação pontual de partes do corpo e da fisionomia do sujeito retratado.
Em Júlio Pomar a diversidade sequencial da obra é gerida através de um processo de metamorfose gradual em que "cada etapa recupera a anterior e anuncia já a seguinte  […]. Assim, as colagens produzidas entre os anos de 1976 e 1978 parecem provir do colorido recortado da (s) fase(s) anterior(es), para agora perderem em cromatismo o que ganham em textura". (Ramos, 2004).
Caracterizada por um tipo de figuração que cruza a surpresa do processo de associação de imagens aprendido com o surrealismo e a herança do expressionismo abstrato, a pintura de Pomar ao longo das últimas décadas resulta de uma atividade intensa e de um permanente desejo de diversificação temática. Nas suas combinações encontraremos tigres e chapéus-de-chuva... macacos... retratos, mais ou menos explícitos; por vezes parece clara a vontade de buscar as suas raízes (veja-se, por exemplo, Lusitânia no Bairro Latino – retratos de Mário de Sá Carneiro, Santa-Rita Pintor e Amadeo de Souza-Cardoso, 1985), noutras vê-lo-emos procurar a razão inicial das obras em fontes literárias ou na matéria mitológica.
A sua obra, construída ao longo de cinquenta anos de trabalho, recebeu influências das muitas viagens que fez e de artistas que admirou, como Goya, Matisse, Ingres e os muralistas mexicanos.