Afonso de Sousa

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Afonso de Sousa nasceu a 24 de junho de 1906 na Quinta do Paraíso em Maceira, Leiria – Portugal e faleceu a 18 de dezembro de 1993 na cidade de Leiria.
Foi guitarrista, violista, letrista, compositor, escritor, poeta e advogado. Foi o instrumentista que definiu de forma mais completa e sistemática o papel da segunda guitarra na abordagem de repertório vocal e instrumental, dado que, à época, a sua utilização não era frequente. Para isso, contribuíram também Artur Paredes e Félix Albano de Noronha, solistas de guitarra de Coimbra que incluíram uma segunda nos seus ensembles instrumentais. Afonso de Sousa colaborou, de igual modo, para a produção artística e para a documentação histórica da Canção de Coimbra enquanto género e manifestação cultural.
Esteticamente, sentia-se dividido entre o exacerbamento de emoções, enraizado no Decadentismo e Ultrarromantismo literário-musical e a lógica de pensamento racional, que se tornou para si conducente às propostas lideradas por Edmundo Bettencourt, Artur Paredes e D. José Pais de Almeida e Silva.
Como compositor produziu temas como Variações de CoimbraTemas tristesVariações em Lá Menor e Saudades de Coimbra. É, ainda, autor de Asas brancas e Desalento. Erroneamente, é-lhe atribuída a autoria de Rosas brancas, em confusão com a canção Desalento, que contém essa expressão na sua letra.
Ao nível da produção literária, destacam-se: Roteiros subjetivos da minha terra (1964), Sarça ardente e outras sarças (1965), Do Choupal até à Lapa: recordações de um antigo estudante de Coimbra (1973), O canto e a guitarra na década de oiro da Academia de Coimbra: 1920-1930 (1981) e Ronda pelo passado: memórias de um antigo estudante do Liceu Rodrigues Lobo, em Leiria e da Fac. Direito da Univ. de Coimbra: 1915 a 1930 (1989).
Filho de José de Sousa e de Rosália Coelho de Sousa, frequentou o Liceu Rodrigues Lobo em Leiria, entre 1915 e 1923. Nessa altura, demonstrando já interesse pela música, iniciou-se no acordeão e na viola, chegando a participar num agrupamento musical daquela cidade liderado por João Agostinho Nogueira. Posteriormente, em 1923, ingressou na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra – Portugal. Foi sócio da Tuna Académica da Universidade de Coimbra (TAUC) e do Orfeon Académico de Coimbra (OAC), apresentando-se em récitas dadas por essas entidades em Portugal e no estrangeiro.
Em 1925 tornou-se discípulo de Noronha, com quem teve aulas de guitarra de Coimbra e, em 1926, ensaiou e gravou, como segunda guitarra, repertório que este preparou com Armando do Carmo Goes. No mesmo ano, foi convidado por Artur Paredes a integrar o seu ensemble, primeiramente como viola numa excursão ao Norte e, posteriormente, na qualidade de segunda guitarra. Participou em todas gravações de repertório instrumental com Paredes para a etiqueta His Master’s Voice. Estas viriam a acontecer entre 1926 e 1930, com Guilherme Barbosa na viola.
Este período traduziu-se no ponto alto da sua carreira guitarrística. Além das já referidas gravações, participou ainda nas de Artur Almeida d’Eça e na gravação de dez canções de Edmundo Bettencourt com Artur Paredes e Mário de Fonseca, cujos discos resultantes permaneceram em catálogo até 1953. Acompanhou também Noronha, juntamente com Laurénio Silva na viola, na gravação de duas séries de guitarradas para a Columbia que não viriam a ser comercializadas. Em 1929 deslocou-se a Sevilha - Espanha, no âmbito da “Exposição Ibero-Americana”, e atuou com a Embaixada Artística da Academia de Coimbra, na qual integravam Artur Paredes, guitarra de Coimbra; Guilherme Barbosa, viola; e António Menano, voz. Gravou também repertório próprio como solista, tendo, inclusive, na edição de junho da Phonograph monthly review (New York – Estados Unidos) de 1930, recebido uma menção na secção de edições estrangeiras: “Portuguese. There are three releases in this group from Columbia, of which the best is the disk of original guitar solos by Dr. Alfonso de Sousa (1102-X)" (p.323).
Em 1930, em vésperas de receber a sua carta de curso, era um estudante respeitado na Academia, presente entre múltiplas atividades culturais. Terminado o curso, regressou a Leiria, onde se fixou, embora tenha permanecido ligado à TAUC e ao OAC, na qualidade de sócio.
No pós Segunda Guerra Mundial, a escrita de Afonso de Sousa metamorfoseou-se num bastião de resistência: afirma-se contra a banalização do repertório pelos modernistas; declara-se contra a insuficiência teórica e as ambiguidades discursivas que impossibilitavam uma correta compreensão do primeiro modernismo na Canção de Coimbra; manifesta-se contra as políticas culturais e o processo de incrementação turística implementado pelo Estado Novo (que almejava vender a Canção de Coimbra como subgénero do Fado); expressa-se contra as ideologias que se tinham vindo a incorporar na Canção de Coimbra.
Em 1960, no âmbito do 80º aniversário do Orfeon Academico de Coimbra (OAC), reúnem-se, pela última vez em Coimbra, Artur Paredes, Carlos Paredes e Afonso de Sousa, acompanhados por Arménio Silva e António Leão Ferreira Alves. No inverno desse ano, deslocou-se à Índia com Pinho de Brojo, guitarra de Coimbra; Mário Castro, viola; e os cantores Fernando Rolim e Luís Goes. Na segunda metade da década de 60, colaborou com Divaldo Gaspar de Freitas na produção de depoimentos sobre antigos cultores da Canção de Coimbra. Em 1970, marcou presença no colóquio sobre a Canção de Coimbra dinamizado pelo OAC. Afirmou, nesta ocasião, a recusa à linearidade do discurso que propõe a erradicação do legado clássico da Canção de Coimbra ou a sua transformação em música de intervenção, apesar de reconhecer e demonstrar compreensão de algumas das propostas estéticas de músicos de gerações mais recentes que se encontravam presentes no mesmo colóquio.
 
Ref. bib.
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