Ernesto Rodrigues

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Ernesto Monteiro Rodrigues, conhecido como Ernesto Rodrigues, nasceu a 6 de julho de 1875 em Lisboa – Portugal e faleceu a 26 de janeiro de 1926 na mesma cidade.
Foi comediógrafo - autor de géneros diversos como teatro de revista, farsa, opereta e fantasia -, sócio fundador integrante dos primeiros corpos gerentes da Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses (SECTP), colaborador do periódico Ecco artístico (1911 - ?), gestor do icónico Café Restaurant Leão d'Ouro, no Rossio, em Lisboa, e alto funcionário do Estado no Ministério das Colónias. O Jornal dos teatros, nº 34, de 19 de agosto de 1917, descreveu-o como “(…) alto, gordo, simpático, brilham-lhe através dos óculos dois olhitos escuros, muito espertos, muito expressivos – dois olhos que são enfim, duas permanentes gargalhadas! É o Padre-Mestre do Riso, o Sacerdote Máximo da Alegria provinda do talento. (…)” (as cited in Rodrigues, 2007, p. 98). Como comediógrafo, foi um dos mais proeminentes e marcantes autores da geração da I República, tendo deixado uma obra vasta sob o mote “ridendo castigat mores”.
Das suas colaborações teatrais, destaca-se A Parceria (de Lisboa): "durante 14 anos (1912-1926) integrou com Félix Bermudes (…) e João Bastos (…) o mais destacado grupo de autores do teatro popular português, com particular incidência no teatro de revista, e que ficou desde logo conhecido por A Parceria" (Rodrigues, 2007, p. 3). Com este agrupamento escreveu O sonho dourado (fruto primeiro d'A Parceria, ainda em 1912), De capote e lenço (1913), Paz e união (1914), O diabo a quatro (1915), O novo mundo (1916), O conde barão (1918), João Ratão (1920), Lua nova (1922), O pão de ló e O leão da Estrela (ambas de 1925) e outros. “Além de O leão da Estrela, a sua obra João Ratão foi transformada em filme (…)" (Rêgo, 2004, p. 32) em 1947 e 1940, respetivamente. Colaborou ainda com outros autores da esfera teatral à época, destacando-se André Brun, Bento Faria, Acácio Paiva, Xavier Marques, Pereira Coelho, Lino Ferreira e Henrique Roldão, entre outros.
Ernesto Rodrigues estreou-se como escritor teatral aos 24 anos, em 1899, com A arte de montes, estreada e aclamada pela crítica a 29 de janeiro, no Teatro da Trindade, em Lisboa. Em novembro de 1905, apresentou a sua segunda produção teatral no mesmo espaço: O pai-mãe, em colaboração com Artur Cohen. “O pai-mãe será depois exibido no Porto (no Teatro Águia d’Ouro) e no Rio de Janeiro em 1909, como noticiará o jornal brasileiro Folha do Dia em junho desse ano" (Rodrigues, 2007, p. 59), evidenciando sucesso na sua receção. Na sequência destas apresentações e de novas produções em colaboração com diversos autores, foi-lhe lançado um repto em 1906: "O sr. Ernesto Rodrigues tem-nos apresentado uma série de peças, sempre recebidas com agrado, mas amparado de contínuo a um colaborador. Ora como estes variam, e ele se conserva sempre, há direito a exigir-lhe que arroste a plateia sozinho, porque a crítica deseja avaliar bem a sua propensão para teatro, ou se, na verdade, se não trata mais que de uma escolha hábil” (in Diário Ilustrado, 28 dez. 1906 as cited in Rodrigues, 2007, p. 61). André Brun, que colaborava frequentemente com Ernesto Rodrigues, viria a sair em sua defesa, reprovando os críticos "num artigo assinado no jornal Novidades e intitulado Gente nova II. Ernesto Rodrigues [1908]: “(…) [abordando, inclusive] a questão mais sensível: “uma censura lhe têm feito os seus críticos: o de trabalhar quase sempre acompanhado. Atribuem este seu processo de trabalho a deficiências de educação literária que lhe não permitem escrever sozinho as suas peças. Se não bastassem para desmentir semelhante asserção os trabalhos em que apenas figura o seu nome, assistir-me-ia o dever de na minha qualidade do menos valioso dos seus colaboradores, afirmar solenemente de que ele não carece de ninguém para a elaboração e para a factura de uma peça” (as cited in Rodrigues, 2007, p. 66).
As colaborações com Félix Bermudes, seu companheiro da “aula infantil da Escola Académica” (Bermudes, 1958 as cited in Rodrigues, 2007, p.  120) e, posteriormente, d’A Parceria, iniciaram-se em 1907 com A semana dos 9 dias, uma produção de 3 atos e 17 quadros.  João Bastos juntou-se a este dueto em 1912, com a produção de O sonho dourado. Esta peça – a primeira d’A Parceria - recebeu grande aclamação e precedeu o sucesso que o grupo obteve. Da sua extensa produção, conclui-se que as temáticas mais exploradas pel’A Parceria centraram-se em problemas seus contemporâneos, como a I Guerra Mundial, o Modernismo, o Clero, a Monarquia, as desigualdades sociais, as dificuldades quotidianas, a escassez de comida, a pobreza e o abuso do poder policial na época.
Ernesto Rodrigues colaborou ainda, durante o ano de 1925, com o grupo de autores Gregos e Troianos. Deste grupo faziam também parte João Bastos, Félix Bermudes, Luís d’Aquino (pseudónimo de Luís Galhardo), Alberto Barbosa, Xavier de Magalhães e Lourenço Rodrigues. Resultaram, desta colaboração, as revistas-fantasia Rataplan, Foot-ball, Jazz-Band – apresentadas no mesmo ano -, e O az de espadas (revista) e Pó de arroz (comédia), apresentadas após o seu falecimento.
A 27 de julho de 1925 foi agraciado com a Ordem de Sant’Iago da Espada.


 
Ref. bib.
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Igrejas Caeiro. (1958, June 17). Perfil de um Artista: Félix Bermudes em entrevista. Lisboa: Rádio Clube Português. Retrieved from https://www.youtube.com/watch?v=anLcOHxeXfU&t=217s
Presidência da República Portuguesa. (1925, July 28). Entidades nacionais agraciadas com ordens portuguesas: Ernesto Rodrigues. Retrieved from http://www.ordens.presidencia.pt/?idc=153&list=1
Ramos, J. L. (2012). João Ratão. In Dicionário do cinema português: 1895-1961 (pp. 199–200). Alfragide: Editorial Caminho.
Ramos, J. L. (2012). Amarante, Estêvão. In Dicionário do cinema português: 1895-1961 (pp. 30–34). Alfragide: Editorial Caminho.
Rêgo, M. (2004). Rodrigues, Ernesto, 1875 - 1926. In Desportos e letras: Exposição bibliográfica: 3 de junho - 4 de setembro (p. 32). Lisboa: Biblioteca Nacional. Retrieved from https://books.google.pt/books?id=31_CLX2go64C&hl=pt-PT&source=gbs_navlinks_s
Rodrigues, P. A. C. (2007). Ernesto Rodrigues, um homem do teatro na I república. Universidade de Lisboa/ Faculdade de Letras, Portugal.
Universidade de Coimbra. (1974). Catálogo das Coleções de Miscelâneas: Teatro. Coimbra: Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra.