Estêvão Amarante

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Estêvão da Silva Amarante, conhecido como Estêvão Amarante, nasceu a 9 de janeiro de 1889 em Lisboa – Portugal e faleceu a 6 de dezembro de 1951 no Porto – Portugal, na sequência de um colapso sofrido durante uma digressão.
Foi ator no âmbito de diversas vertentes das artes da representação (teatro declamado, opereta, comédia, teatro de revista, teatro radiofónico e cinema), tendo-se também destacado enquanto encenador de teatro de revista, diretor artístico, empresário teatral e cantor.
Com uma carreira prolífica e demarcada pelo sucesso em Portugal e no Brasil, Estêvão Amarante apresentou-se como ator em alguns dos mais afamados teatros lisboetas da época: no Teatro Apolo, no Teatro Variedades, no Teatro Maria Vitória, no Teatro Nacional D. Maria II, no Teatro S. Luiz e no Teatro Politeama, tendo exercido também como empresário teatral do Teatro Avenida (1920-1923? e 1932-?) e do Éden Teatro (c. 1937-?).
Ao nível interpretativo, notabilizou-se no teatro de revista com a interpretação de obras como Có-có-ró-có (1912); Novo mundo (1916); O trinta e um (1917); O conde barão, Salada russa, Miss Diabo e João Ratão (1918); Água-pé (1927) e A marcha de Lisboa (1941). No cinema, participou em A minha noite de núpcias, de E. W. Emo para a Paramount (1930, França); Lisboa, crónica anedótica (1930) e Maria Papoila (1938) de Leitão de Barros; O feitiço do império, de António Lopes Ribeiro (1940); É perigoso debruçar-se (1945), uma produção luso-espanhola de Arthur Duarte e Alejandro Ulloa; O hóspede do quarto 13 (1946) e O grande Elias (1950), de Arthur Duarte; e Madragoa (1951-1952), de Perdigão Queiroga.
Na Emissora Nacional, participou na primeira grande produção de teatro radiofónico - levada a cabo em 1950 -, com uma adaptação de As pupilas do senhor reitor (Júlio Dinis), por Adolfo Simões Müller, com realização de Jorge Alves e música original de Belo Marques (Santos, 2015).
O sucesso alcançado nos palcos enquanto cantor levou-o à gravação de fonogramas de 78 r.p.m. em pelo menos cinco ocasiões: em 1915 para a Parlofone/ Luzofone, em 1925-1926 para a Ódeon, em 1926 para a Columbia-Valentim de Carvalho - numa das primeiras sessões de gravação elétrica realizadas em Portugal (Félix, 2010) -, em 1929 para a Brunswick e em 1937 para a His Master’s Voice.
Em maio de 1920, foi condecorado com o grau de cavaleiro da Ordem de Santiago da Espada pelo Governo da República.
Originário “de uma família muito pobre, órfão de pai muito cedo, o seu à-vontade e boa voz levaram -no para o teatro, ainda criança (…)” (Ramos, 2012, p. 30), tendo-se estreado em 1900, com a adaptação portuguesa da opereta francesa A viagem de Suzette (Alfred Duru, Henri Chivot e Léon Vasseur) no Teatro Avenida, em Lisboa: “(…) precisavam de um miúdo, e assim, com apenas 12 anos, Amarante fez a sua estreia nesse palco em que conheceu as noites de maior glória” (Santos, 1978, p. 97 as cited in Moura, 2004, p. 127).
No ano seguinte, ingressou numa companhia infantil sediada na mesma cidade, onde permaneceu durante vários anos e cuja atividade conjugou com atuações “(…) também para públicos adultos, nas feiras de Alcântara e Algés, em salas populares que de teatros só tinham o nome" (Ramos, 2012, p. 31). Em 1906 e com o apoio do empresário Luís Galhardo, estreou-se no teatro de revista com P’rá frente, onde interpretou pela primeira vez neste contexto a canção Toma lá cerejas, estreada no ano anterior com grande sucesso nos teatros de feira. Entre 1909 e 1911 integrou a companhia de operetas de Luís Galhardo sediada no Teatro Avenida.
Na sequência da implantação da república (5 de outubro de 1910), a 15 de novembro e estando em palco com a opereta A princesa dos dólares (de A. M. Willner e F. Grunbaum), Estêvão Amarante, juntamente com outros atores, cantaram A portuguesa - símbolo da revolução republicana e adotada em 1911 como novo hino nacional -, em cena aberta perante representantes do Governo Provisório e do Diretório do Partido Republicano.
Mantendo franca atividade artística desde a sua estreia, foi em janeiro de 1918, aquando da representação de O conde barão (Ernesto Rodrigues, Félix Bermudes e João Bastos - A Parceria de Lisboa), que Estêvão Amarante conheceu Luísa Satanella: “(…) vedeta (…) elegantíssima (…), atriz de origem italiana que viera, dois anos antes (...). A paixão é instantânea e fulminante. Amarante e Satanella não só se apaixonam e unem destinos privados como também profissionais" (Ramos, 2012, p. 31), criando logo de seguida a bem-sucedida Companhia Satanella – Amarante. Instalada no Teatro Avenida, a Companhia Satanella-Amarante, em atividade entre 1918 e 1930, dedicou-se também a longas digressões no Brasil, onde se apresentou com grande sucesso. Dissolveu-se em 1930, aquando da separação conjugal do ator e de Luísa Satanella, "com escândalo manifesto" (Ramos, 2012, p. 32): "Luisa Satanela e Estevão Amarante apaixonaram-se e casaram, mas ele era um homem muito atraente e o meio em que viviam era mau. E, segundo se consta havia ciúmes de parte a parte. A Luisa Satanela, quando enviuvou foi dirigir uma pousada e creio que faleceu lá, em Óbidos" (Remartinez, 2017, p. 10).
Em 1932, e depois de uma temporada no Brasil com a Companhia Abranches-Chaby Pinheiro, regressa a Portugal, onde não voltou a encontrar a mesma recetividade. Ainda assim, apresentou-se regularmente no Teatro Avenida com companhia própria (Companhia Estêvão Amarante), até se juntar à Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro, sediada no Teatro Nacional de Almeida Garrett (atual Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa), no verão de 1934. Apresentou-se com esta companhia entre 1934-1936 e 1940-1941. Em 1937, tornou-se empresário do Éden Teatro. Nos anos que se seguiram, com mais ou menos sucesso, nunca abandonou o elevado número de participações em produções artísticas que lhe foi característico ao longo da carreira.
"Tendo nascido do povo, sendo novo, estudioso, esperto, dotado fisicamente á maravilha para a representação das figuras lisboetas da rua, o actor Amarante ocupou-se de estudar os seu papeis 'de caracter' com fiel observação e um espirito de minucia e de cuidado, invulgares. A sua creação do carroceiro 'Ganga' valia por si uma cronica de Fialho. (...) ora o caso de Estevam Amarante é um milagre de equilibrio. O actor estuda; e o emprezario negoceia. E, os dois, de braço dado la vão andando, ou ele não fosse um portuguesinho valente. Mas é o Actor prejudicado pelo Emprezario? - Decerto (...). Cada 'borla' negada pelo emprezario é um inimigo do artista que surge" (Leitão de Barros in O Domingo Ilustrado, 8 de set. 1927).
 
Ref. bib.
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