Augusto Hilário

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Augusto Hilário da Costa Alves, conhecido como Augusto Hilário, nasceu a 7 de janeiro de 1864 na Rua Nova - hoje Rua Augusto Hilário - freguesia da Sé, Viseu – Portugal e faleceu a 3 de abril de 1896 na mesma cidade.
Foi cantor, letrista, guitarrista, compositor, ator de teatro, aspirante da Escola Naval e estudante de Medicina, tendo conquistado fama nacional, envolta até aos dias de hoje num certo mito, como cultor da boémia e do romance, como poeta e pela sua capacidade de improviso teatral e musical. Enquanto cantor, acompanhava à guitarra os seus próprios poemas, embora tenha musicado, igualmente, contemporâneos seus. Ao nível temático, cultivou a exploração da irrealidade com exacerbamento ultra-romântico, como o abuso das saudades, prantos, paixões, suspiros, a natureza enlutada das campas e goivos, a transfiguração da capa estudantil em mortalha e da guitarra em sarcófago: o belo-horrível.
Diz-se que terá gravado numa ocasião em cilindro de cera, embora tal registo nunca tenha sido encontrado. Alguns periódicos (jornais/ revistas) da época caracterizaram a sua extensão vocal como barítono, enquanto outros tenor.
Ao nível da produção artística, citando o jornal A liberdade (Viseu) n.1525 de 9 de junho de 1896, terá deixado “innumeras poesias originaes e muitas producções inéditas, principalmente, de teatro, para que tinha decidida vocação. Compôz também valsas e outras musicas, tendo visto algumas a luz da publicidade. O fado a que deu o seu nome é uma das suas composições mais em voga e uma das melhores no seu genero. Não há ninguem que não conheça o Fado Hylario tal é a sua popularidade.”
É apontado como o ponto de referência e partida para a história da Canção de Coimbra enquanto género autónomo, denotando-se na sua produção musical já algumas das características estilísticas que a marcaram ao longo do século XX. Os seus fados, apesar de apresentarem algumas semelhanças estruturais com o fado de Lisboa, caracterizavam-se pela utilização da forma estrófica com estrutura interna binária em que a introdução instrumental podia ou não antecipar a linha melódica da voz. No que diz respeito à progressão harmónica, esta demonstrava-se também mais complexa, com uso regular de dominantes secundárias. Também, ao nível da consolidação do estilo interpretativo vocal característico da Canção de Coimbra, é de sublinhar o seu contributo: com Hilário, a colocação de voz tornou-se semi-operática, a linguagem ultra-romântica expressiva, começa a existir liberdade rítmica na interpretação das frases e suspensões nas notas mais agudas – algo que já se ouvia, de forma não sistemática, nas primeiras gravações feitas por cantores de Coimbra.
Filho de António da Costa Alves e de Ana de Jesus da Mouta foi exposto na Roda dos Enjeitados (mecanismo anónimo de entrega de crianças aos cuidados dos poderes locais) no dia em que nasceu. O mesmo destino teriam os seus irmãos, António Pais, em 1865, e Carlos Alberto, em 1868. Batizado como Lázaro Augusto em 1864, em documento anexo à sua Certidão de Edade, é referido que aquando do crisma, a 26 de maio de 1877, solicitou a alteração do seu nome para Augusto Hilário. A 8 de junho de 1883, os seus pais iniciaram o processo de perfilhação de todos os filhos, reconhecendo a sua conceção pré-matrimonial e manifestando o desejo de os legitimizar.
A 16 de setembro de 1886 terminou o Liceu Nacional de Viseu e a 12 de outubro do mesmo ano matriculou-se na Faculdade de Filosofia da Universidade de Coimbra - Portugal, no Curso Preparatório Médico, com vista a preparar-se para o ingresso na Faculdade de Medicina da mesma universidade. Registam os anuários daquela universidade que frequentou esse curso entre os anos letivos de 1886/1887 e 1891/1892. À falta de recursos, inscreveu-se na Marinha (ramo naval das Forças Armadas Portuguesas) em 1889 para receber subsídio de Estado Português, conquistando o estatuto de aspirante da Escola Naval.  A partir do ingresso na Universidade de Coimbra, passou a residir nessa cidade, não obstante os laços familiares e a atividade artística que continuou a cultivar na sua cidade natal, documentada, inclusive, em inúmeras ocasiões por jornais viseenses.  A 3 de outubro do ano letivo de 1892/1893, registam os anuários a sua primeira matricula no primeiro ano de Medicina, o qual repetiu no ano letivo subsequente. Aquando da sua morte, estava prestes a concluir o terceiro ano do referido curso.
Durante a sua estadia em Coimbra, além da vida de boémia por que era conhecido, como cantor dos círculos académicos e da noite coimbrã e cultor dos romances efémeros, encontrou-se ligado a várias associações. Terá feito parte da Tuna Académica da Universidade de Coimbra, bem como da Sociedade Serões Dramáticos de Celas, Coimbra, fundada a 26 de março de 1887 essencialmente por académicos e na qual foi um dos principais elementos. Presente desde a sua fundação, esta foi dissolvida em 1889.  Em 1890, fez parte da Troupe Dramática do Teatro de D. Luís de Coimbra, tendo esta conhecido a dissolução em 1893.
Entre março e julho de 1895 compôs os rudimentos do Último fado.  Participou, também, na festa de homenagem ao poeta João de Deus, realizada no Teatro D. Maria II em Lisboa – Portugal, na qual se conta, em jornais da época, que terá atirado a guitarra para o público e nunca mais a terá visto. A 2 de junho, como forma de substituição e uma vez que se aproximava uma atuação sua no Ateneu Comercial de Lisboa, este oferece-lhe a derradeira guitarra, a guitarra do Hilário que hoje conhecemos.
Faleceu por doença no ano seguinte, vítima de uma “ictericia grave hypertermica”, durante as férias da Páscoa, em casa dos pais. O seu falecimento e os seus feitos foram, durante meses, tema dos semanários de todo o país.
 
Ref. bib.
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