Venceslau Pinto

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Venceslau do Amaral Pinto, conhecido como Venceslau Pinto, nasceu a 3 de janeiro de 1883 em Nogueirinha, Oliveira do Hospital – Portugal e faleceu a 14 de setembro de 1973 em Lisboa - Portugal. Foi oboísta, compositor, orquestrador, maestro, diretor musical e professor de oboé, instrumentos de palheta, bandolim e composição, tendo um dos seus mais notáveis alunos sido, em 1966, o violinista, violetista e compositor Ernesto Rodrigues (1959- ). Foi um dos sócios fundadores - e pertenceu durante vários mandatos aos corpos gerentes - da Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses (SECTP), precursora da Sociedade Portuguesa de Autores.
Enquanto instrumentista colaborou com diversas orquestras, de entre as quais se destacam a Grande Orquestra Portuguesa – fundada e dirigida pelo maestro Michel'Angelo Lambertini, em atividade entre 1906 e 1908  (Cascudo, 2006; Santos, 2010) -, a Orquestra Sinfónica Portuguesa e a Orquestra Sinfónica de Lisboa.
Como compositor, ter-se-á estreado ainda no final do séc. XIX com uma ópera cómica onde colaborou com Joaquim Fernandes Fão (Silva, 2010). A sua produção musical estendeu-se a variados géneros, desde a opereta (com obras como O João Ratão, 1920; O poço do bispo, 1924; Bairro Alto, 1927; Ribatejo, 1939), passando pelo teatro de revista (de que são exemplos Fogo de vistas, 1913; O novo mundo, 1916; Pão de ló, 1925; Cabaz de morangos e Rosas de Portugal, 1926; Chá de parreira, 1927; ou A lei do inquilino, 1931) e pela música erudita - com obras como 1140 (1940), Sinfonia em si menor (1947) ou Sinfonia em lá (n.d.).
No campo da composição para cinema, destacam-se colaborações em Mademoiselle Écran (1919), de que “(…) não se conhece o paradeiro de qualquer material fílmico (…)" (CinePT, 2019); A revolução de Maio (1937), com realização de António Lopes Ribeiro, como veículo de propaganda política do Estado Novo; Viagem de Sua Excelência o Presidente da República a Angola (1939) - uma “reportagem cinegráfica da visita do Chefe do Estado, Óscar Carmona, a Angola” (CinePT, 2019) - e  Feitiço do Império  (1940), ambos realizados também por António Lopes Ribeiro, com direção musical de Pedro de Freitas Branco. Em 1959, colaborou, a par de compositores como Raul Ferrão, Luís de Freitas Branco, Viana da Mota e Ruy Coelho (entre outros), em Rapsódia portuguesa, de João Mendes.
Foi diretor musical da Companhia Taveira, da Companhia Luís Galhardo, da Companhia de Estêvão Amarante e da Companhia de Armando de Vasconcelos.
Desempenhou o cargo de maestro em diferentes orquestras no âmbito dos quadros da Emissora Nacional: na Orquestra Popular – que viria, na década de 1940 a ser denominada Orquestra Sinfónica Popular -, na Orquestra Sinfónica B, na Orquestra Ligeira de Concerto e na Orquestra de Salão da Emissora Nacional.
Desenvolveu atividades pedagógicas na Sociedade de Concertos e Escola de Música, de Lisboa, fundada em julho de 1902 por Julio Cardona, Guilherme Ribeiro e Matta Junior, onde fez parte do seu primeiro quadro pedagógico como professor de oboé e instrumentos de palheta e, posteriormente, bandolim. Mais tarde, exerceu como professor de composição (1919-1953) no Conservatório Nacional, Lisboa.
Entre as décadas de 1890 e 1900, frequentou a Real Casa Pia de Lisboa. Posteriormente iniciou a sua formação musical no Conservatório Nacional, onde a partir de 1896 estudou oboé e, a partir de 1898, harmonia e contraponto. No mesmo ano (1898), deu início à sua carreira como intérprete, tocando oboé em orquestras de teatro. Em 1902 terminou o curso de harmonia e contraponto no Conservatório Nacional com 8 valores (revista Arte Musical, 15 jul. 1902).
Entre 1945 e 1948 fez parte do júri das três únicas edições dos Prémios para Teatro Ligeiro Musicado, promovidas pelo Secretariado Nacional de Informação.
As incursões pela composição para teatro de revista permitiram-lhe tornar-se um colaborador assíduo do grupo de autores denominado como “A Parceria” de Lisboa (Ernesto Rodrigues, Félix Bermudes e João Bastos), e dos compositores Tomás del Negro, Alves Coelho e Raul Portela, entre outros e a par dos quais se consagrou como um dos principais compositores para teatro de revista nas décadas de 1910 a 1930.
Artur Agostinho, jornalista e radialista (1920-2011), em entrevista a Pedro Rodrigues (2007), descreveu-o como "(…) um homem muito engraçado como maestro, tinha uma capacidade de dirigir a orquestra, de apanhar a velocidade necessária para que se acabasse nos horários fixados… Por exemplo, nos Serões para Trabalhadores havia um tempo próprio, e se estava um bocadinho atrasado ele acelerava… em pânico…” (p. 176).
Estilisticamente, “adaptava o seu estilo composicional aos géneros que compunha e aos diferentes contextos de performação, sendo a sua música predominantemente tonal, com recurso a cromatismo e a modulações por terceiras e entre tons homónimos” (Silva, 2010, p.1009).
 
Ref. bib.
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