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Solidó dos bolieiros do fonofilme "A Severa". Arraial de Sto. António do fonofilme "A Severa"

Fonograma

ID: MusA-1284
Data:
1931 (edição/publicação)
Medidas:
25 cm (diâmetro) 78 rpm (rotações por minuto)
4m 42.0s (duração)
Descrição:
Disco de goma-laca, de gravação eléctrica, composto pelos títulos: Solidó dos bolieiros (do fonofilme "A Severa") [de] Frederico de Freitas [e interpretado por] Silvestre Alegrim, com acomp. de orquestra típica; Arraial de Sto. António (do fonofilme "A Severa") [de] Frederico de Freitas [e interpretado por] Maria Sampaio, soprano com orq. e côros.
História/origem:
A gravação, em 1931, de vários discos com os principais temas do fonofilme A Severa (Leitão de Barros, 1930) constituiu “(…) uma das primeiras tentativas de articulação entre a produção cinematográfica e a indústria fonográfica” (Silva, 2014).
Em 1930, Frederico de Freitas foi convidado por Leitão de Barros a participar enquanto diretor musical na produção de A Severa. O contrato formal viria efetivamente a ser consumado no final desse ano. Na carta enviada por Frederico de Freitas a Alfredo Allen a 17 de novembro desse ano, o compositor revela que já chegou a acordo com a Sociedade Universal de Superfilmes (S.U.S.) acerca das condições do seu contrato:
"Receberei por pôr a musica em fita e realizar a partitura 15 contos, e 2 1/2% sobre os lucros líquidos durante 3 anos que é a verba de direitos de autor. A minha deslocação para Paris será paga por eles com a verba diária de (x) igual às primeiras figuras do film. Não sei ainda quanto. Falta passar isto para o papel e depois lhe direi mais qualquer coisa. "
No entanto, antes, a 8 de setembro do mesmo ano, a carta que enviou a Alfredo Allen, dava já conta do seu envolvimento, previamente à celebração do contrato, confessando: “Fui completamente açambarcado pelo Leitão de Barros para a Severa (…)”.
De acordo com a correspondência enviada a 1 de janeiro de 1931 pelo compositor a Alfredo Allen, este partiu para Paris – França a 5 de janeiro. O objetivo desta deslocação seria o acompanhamento das filmagens de interiores e das gravações de som nos estúdios da Tobis em Epinay-Sur-Seine, Paris.  Na mesma carta, Frederico de Freitas comunica e questiona ainda:
"Sobre a gravação dos numeros da Severa não sei o que possa tratar (…). Sei que o filme tem um distribuidor geral em Paris que é o Sr. H. da Costa. Sei também que Sociedade de Super Filmes pensou ou pensa em fazer discos por sua conta – o que não nos convem – ou pelo menos que lhes convem os discos. (…) Pense o que se pode fazer no sentido de os discos aparecerem quanto possivel ao mesmo tempo que o filme. Os artistas embarcam dia 12 e devem [conservar-se] em Paris até dia 31. Será possivel pagar imediatamente a gravação nos studios da His, em Paris?"
Ao compositor preocupavam os possíveis projetos paralelos da empresa cinematográfica que fizessem o Grande Bazar do Porto perder uma oportunidade de negócio. A presença dos artistas em Paris era, assim, fulcral para que se beneficiasse de condições ótimas quer ao nível da qualidade das gravações quer para a realização das mesmas e respetiva comercialização simultaneamente com a estreia do fonofilme. Na ótica do compositor e de Allen, dever-se-ia agir o mais rapidamente possível, dado que a oportunidade constituia uma excelente estratégia de marketing e, certamente, garantiria o sucesso de vendas.
A 3 de janeiro de 1931, o Grande Bazar do Porto emite uma carta de apresentação dirigida à Compagnie Française du Gramophone e endereçada a Frederico de Freitas explicando em que situação aquele se iria dirigir à empresa:
"The bearer is our Maestro and Musical Director Mr. Frederico de Freitas, who is leaving for Paris to direct and conduct the musical part of the first Portuguese Film, realised by TOBIS Company. We must point out that he is the author of the music contained in this Film. (…) if the Gramophone Company gives the necessary authorisation, some hits of the aboved mentioned Film may be recorded at your Studios (…)."
A partir de 4 de janeiro, dá-se início a uma forte troca de correspondência entre Frederico de Freitas e o Grande Bazar do Porto - nas pessoas de Alfredo Allen e Gaspar Cabral - de modo a acertar todos os pormenores referentes à proposta de gravação a enviar aos estúdios da Compagnie Française du Gramophone.  
A 10 de janeiro de 1931, o Grande Bazar do Porto confirma, através de carta enviada a Frederico de Freitas, a concordância da Gramophone Company relativamente à realização de gravações em Paris. Os temas escolhidos para gravação foram Novo Fado da Severa (Dina Teresa com acompanhamento de guitarras), Canção da Chica (Maria Isabel e orquestra), Arraial de Sto. António (Maria Sampaio com coro e orquestra), Solidó dos Bolieiros (Silvestre Alegrim e orquestra típica), Valsa (Orquestra Parisiense) e Canção do Romão (António Fagim e coro masculino). Este conjunto de temas, que viria a resultar nos discos EQ 293, EQ 294 e EQ 295, representava uma seleção de momentos marcantes do fonofilme em estilos musicais distintos do fado. O intuito desta escolha seria, por um lado, afastar a ideia de que a música do fonofilme era exclusivamente ligada ao universo fadístico e, por outro, permitir ao ouvinte, a posteriori, reconstituir o fonofilme a partir do universo sonoro.  
Após a aprovação para gravação, cabia a Frederico de Freitas reunir os músicos necessários e marcar uma data. Tal não se revelou, no entanto, tarefa fácil: a contratação dos mesmos músicos que haviam participado nas gravações do fonofilme tornou-se impossível uma vez que esses gravavam com frequência para o selo da Columbia; o diretor de orquestra exclusivo da La Voix de Son Maître (HMV/ Compagnie Française du Gramophone) não podia também contratar violas e bandolins, logo, seriam necessários os que participaram na gravação do fonofilme mas, por outro lado, muitas dúvidas se levantavam relativamente às burocracias envolventes. No final, “A nova orquestra teve de ser criada ad hoc com músicos que trabalhavam para a La Voix de Son Maître, o que explica certamente a designação genérica de “Orquestra parisiense” que surge na etiqueta dos discos da Severa gravados pela HMV” (Silva, 2014). Relativamente à data: com o cruzamento da disponibilidade dos artistas com a verificação da agenda dos músicos e a disponibilidade da Salle Pleyel, Paris, onde seria feita a gravação, o compositor foi obrigado a marcar a sessão para um domingo, sob grande protesto dos diversos intervenientes. Entretanto, um novo entrave havia surgido: o técnico de som selecionado para a gravação era Edward Gower, ao qual Frederico de Freitas não reconhecia as competências técnicas necessárias.
A sessão de gravação teve, por fim, lugar a 8 de fevereiro de 1931 entre as 9 horas da manhã e as 13 horas e 30 minutos na Salle Pleyel:
"(…) numa fria manhã (…). A orquestra estava no centro do palco, expostos os músicos em semi-círculo, junto ao microfone. Á frente, sôbre um pequeno estrado, o Maestro Frederico de Freitas, autor da partitura, maestro com M grande. Sôbre a direita, defendido por uma série de biombos, outro microfone, destinado à captação da voz dos artistas. Ao lado deste “micro”, um gramofone eléctrico, por meio do qual os artistas logo após a gravação dum número, apreciam a própria execução" (Sonoarte, de 15 de abril de 1931 as cited in Silva, 2014).
A edição de 22 de dezembro de 1931 do Jornal His Master’s Voice, dedicado a assuntos essencialmente relacionados com a gravação de vários discos com temas d’A Severa, dá-nos a conhecer diversos pormenores acerca das gravações. Na secção “Fala Silvestre  Alegrim”, quando questionado se esta teria sido a sua primeira gravação, respondeu:
"Foi. Mas custou-me muito. Nem calcula as torturas que passei! Isto de gravar é o que se chama um caso grave. Atormentava-me sobretudo a ideia de estar cantando para um público auzente, de não me poder certificar, como acontece no teatro, do agrado ou do desagrado do auditório. Depois o menor êrro, o menor deslise, ali fica, sem correcção possível. E’ de uma responsabilidade enorme."
No mesmo jornal, na secção “Fala Dina Tereza”, quando questionada sobre se gosta de cantar ao microfone, afirma: “Não. Perturba-me enerva-me. Quando foi da SEVERA, nem calcula; esqueci-me e cantei como se estivesse em público. Riram-se muito de mim (…).” Logo de seguida, diz que “O Novo fado da SEVERA [é o disco dos seus que prefere]. A gravação é excelente. A voz torna-se volumosa, quente e expressiva. Creio que se não pode fazer melhor.”
Ainda no mesmo jornal, na secção “Fala o Maestro Frederico de Freitas”, o mesmo fornece uma visão sobre a forma como decorreu a sessão de gravação. Afirma que a primeira gravação foi a da Valsa, pela orquestra, e continua:
"Depois, começamos a gravação do Sol-e-dó. O Alegrim estava nervosíssimo. Não conseguimos que assobiasse com geito. Teve o Costinha, que fazia parte dos coros, de assobiar o refrain. (…) [A seguir] O Arraial de Santo António. Como a Mariana Alves tivesse já partido (…), foi substituída pela Maria Sampaio. Tudo até esta altura decorreu sem novidade maior. Tivemos, depois, que gravar a Canção da Chica e a do Romão. Tanto a Maria Izabel como o Fajim ainda não tinham cantado para o film. Esta inexperiência provocou em ambos um estado de nervos pavoroso com que foi necessário manter uma luta enorme. A Dina ficou para o fim por não ser necessária a orquestra. (…) [Os coros foram cantados] Por todos os artistas portugueses que estavam filmando a Severa."
Nos meses que antecederam o lançamento dos discos, uma grande acção de marketing foi efetuada, em Portugal, por parte do Grande Bazar do Porto. A partir de 11 de março de 1931, esta companhia começa a remeter circulares a todos os revendedores contratados, exultando a grandiosidade do acontecimento e breves descrições dos temas selecionados. Noutra circular (n.d.), é referido que existirá lugar para a venda destes discos na Europa e Américas. Numa terceira (n.d.) pode-se observar que já existem diversas encomendas antes do lançamento dos discos. Numa outra (n.d.), chega-se a afirmar aos clientes que “Mesmo que V. Exª. Não deseje fazer a compra de qualquer desses discos […] prazer para nós ou para qualquer dos nossos revendedores fazê-los ouvir” (Circular Grande Bazar do Porto, n.d.), denotando-se assim o grande empenho depositado nesta campanha.
Embora seja difícil comprovar estatísticamente o sucesso de vendas dos discos, numa carta de 8 de julho de 1931 de Alfredo Allen a Frederico de Freitas, este dá conta de que “Os discos “seus filhos” vão vendendo muito bem, especialmente levando em conta a epoca que vamos atravessando. (…) A venda aqui no Porto, comparando com Lisboa tem sido insignificante, mas a provincia começou a pedir bastante”.
A difusão estender-se-ia também às colónias: Afredo Allen refere em carta enviada a Frederico de Freitas a 6 de agosto de 1931 que a casa A. W. Bayly & Co., com sede em Lourenço Marques (Maputo) – Moçambique, lhe tinha pedido fotografias dos artistas do filme com vista à sua divulgação.

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