Criar... na outra margem

Evento, 12
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O título da presente exposição resulta do facto de o seu autor, depois de algumas iniciativas no domínio da Arte há mais de 50 anos, ter desenvolvido uma carreira em que a expressão era outra, nomeadamente a Ciência. Quando a produção científica, abrandando, passou a deixar mais espaço para a criatividade nos domínios igualmente apaixonantes da educação e comunicação em ciência, passou também a ser possível voltar à criação artística.
 
O autor tem podido, assim, testemunhar como, nas palavras de Mia Couto, Arte e Ciência são “margens do mesmo rio”: um mesmo impulso criativo, uma mesma necessidade de fantasia e de ir mais além, a mesma busca de estrutura em abordagens não dogmáticas com total flexibilidade de pensamento, portas abertas à descoberta, à surpresa, ao prazer de criar… embora por meios diferentes e procurando produtos diferentes. Semelhantes emoções estéticas associadas à descoberta científica e à criação artística. Entretanto, mais uma preocupação de comunicação num caso e de expressão no outro. Em ambos os casos, um conhecimento empático do mundo, transmitido em linguagens específicas, em que se compreendem as considerações de Carlos Oliveira para a Poesia, no poema “Lavoisier”, de que “nada se perde ou cria, tudo se transforma”.
 
Mostram-se ao público algumas dezenas de obras plásticas criadas nos últimos anos, assim como algumas mais antigas. Aquelas dividem-se em (catorze) desenhos com arame – sector “A voz do arame” – e (onze) instalações bidimensionais com restos de PVC de cor de uma oficina – setor “PVC numa nova linguagem”. Além de alguns trabalhos a óleo dos primeiros tempos – especialmente de quando o autor era aluno do Círculo de Artes Plásticas da Associação Académica de Coimbra – apresentam-se, sob a designação de “Outras sintaxes”, obras recentes que utilizam diversas técnicas e materiais, em particular lápis de cera sobre lixas e tinta acrílica sobre telhas de canudo velhas. Trata-se de um total de trinta e nove obras, algumas das quais disponíveis para venda, tal como sucede com as (vinte e três) obras extraexposição  que constam do catálogo. 
 
Os trabalhos em arame – quer oxidado quer não – mordidos pelo fogo e montados em placas lacadas de MDF constituem fórmulas românticas de expressão, através de figuras estilizadas, concretas ou abstratas, em cinza metálico sobre fundo branco ou negro.  
 
Pelo contrário, as composições cromáticas com os restos de PVC são explosões de forma e cor (em que predominam as cores primárias), judiciosamente disciplinadas segundo critérios de simetria, ordem, harmonia.
 
Os trabalhos em lixa ou em telha – superfícies particularmente interessantes porque rugosas – acrescentam uma valência adicional.
 
 
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