Paulo Neves

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Paulo Neves nasceu em Cucujães, Oliveira de Azeméis, em 1959. Frequentou o Curso de Pintura da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. De 1978 a 1981 conviveu e trabalhou com diversos artistas em vários países da Europa.
Revelaria a sua maturidade artística durante a década de 90 do século XX, afirmando-se hoje como um escultor internacional de referência nacional. Com peças em diversas coleções portuguesas, Paulo Neves está também representado nos Estados Unidos, França, Espanha, Brasil, Holanda, Bélgica, Roménia, Austrália, Marrocos e Alemanha. Embora tenha frequentado a Escola de Belas Artes do Porto, a sua aprendizagem é, na tradição moderna europeia, exclusivamente autodidata. A expressão morfológica das suas peças apela ao expressionismo e ao barroco, embora a sua linguagem pareça totalmente original, construída à margem dos movimentos e tendências estéticas do seu tempo. Partindo muito jovem à descoberta do mundo pelas suas próprias mãos, Paulo Neves conheceu artistas, visitou museus, descobriu outros mundos, experiência sem dúvida determinante para a obra que viria a realizar. Uma das personagens que visitou no passado, foi o escultor João Cutileiro, que o impressionou quer pela expressão de liberdade, quer pela dedicação à realização da sua obra.
Paulo Neves preferiu, quase sempre, trabalhar com materiais de proximidade, vivendo próximo de floresta e de indústria de transformação da mesma. Trabalhou com madeira, tanto em bruto como policromada (pinho, castanho, amieiro e sobretudo cedro). Posteriormente trabalhou rochas diretamente em pedreiras portuguesas (granitos, mármores, calcários, basaltos e ardósias), espanholas, brasileiras e romenas. Tem atualmente realizado peças de monumentalidade megalítica a partir da fundição de bronze apesar de ter começado por trabalhar em madeira de pequena escala (lenha para o fogão ou de pequenos toros). A experimentação plástica de novas formas, cores e tecnologias, emerge com originalidade ao longo de toda a sua obra, onde se cruzam baixas e altas tecnologias, modelando em fibra de vidro, recortando aço em chapa, ou associando cerâmica à madeira, ao metal e à pedra. As antropomorfias constituíram até ao século XXI o seu principal argumento escultórico. Criaturas que dormem ou olham expectantes, finos perfis que emergem da massa informe do material em bruto ou pouco trabalhado, deixam a descoberto a preexistência da forma natural, em morfologias orgânicas, fetais e uterinas, ou geometrizadas e eretas. São figuras de autoridade religiosa ou “santos” no entendimento de Paulo Neves. Os materiais e técnicas a que recorre, cumprem com coerência o mesmo desígnio de uma tecnicidade primitivo-tradicional, num território entre a celebração ritual e a representação artesanal.
O ato de esculpir, em Paulo Neves, integra assim o mesmo ciclo existencial de um sistema arcaico e obsoleto (que é o da ruralidade), de nostálgica filiação à experiência mística, perdida no processo da atual secularização urbana.