João Maria dos Anjos

About
João Maria dos Anjos, homónimo do conhecido guitarrista (1856-1889) autor do Novo methodo de guitarra: Ensinando por um modo muito simples e claro a tocar este instrumento por musica ou sem musica (1889), nasceu a 21 de março de 1891 em Alcântara, Lisboa – Portugal e faleceu em julho de 1956.
Foi fadista, letrista, guitarrista durante a juventude, poeta popular e funcionário da Imprensa Nacional de Lisboa, onde começou a trabalhar muito novo na fundição, passando mais tarde a tipógrafo e, depois, a funcionário da secretaria. Recusou sempre o estatuto de fadista profissional, chegando a afirmar: "Não sou profissional. A minha vida, caro amigo, é o emprego onde estou há 40 anos. Comecei por aprendiz de fundição e hoje sou funcionário de secretaria." (Guitarra de Portugal, 1 out. 1946 as cited in Museu do Fado, 2008). De igual modo, recusou sempre qualquer vínculo contratual, embora tenha mantido, ao longo da sua vida, uma intensa atividade artística.
O jornal A canção de Portugal: O fado – Ano I, n.31 (29 out. 1916), num artigo de Augusto de C. Sousa descreve que "[João Maria dos Anjos possui] (…) uma bela voz, de surpreendentes e emocionantes efeitos. E, a par de uma dicção perfeita, corretissima, ele imprime a todos os seus fados uma tão expressiva sentimentalidade, dá-lhes uma tão comovedora e impressionante interpretação, que os ouvintes, subjugados pelo estranho encantamento da sua dolente canção, não raro se sentem, como n'um sonho, elevados ás mais altas e desconhecidas regiões do infinito ou arrastados aos mais profundos e hiantes abismos". Embora incluísse no seu reportório canções de outros autores (como as de Avelino de Sousa), cantava sobretudo as suas.
João Maria dos Anjos começou a tocar viola na Tuna 11 de Março, sediada em Fonte Santa, Lisboa, por volta de 1908, com cerca de 17 anos. Mais tarde, "passou a tocar guitarra e a acompanhar cantadores, o primeiro dos quais foi o José Carapau (José Peres) (Sucena, 1992 as cited in Museu do Fado, 2008).
Chegou a formar a sua própria tuna, “que ensaiava numa casa da Rua de S. Joaquim, e por essa mesma altura dedicou-se também a cantar o fado numa taberna da Rua das Cavalariças do Infante (…) (na zona de Alcântara), onde na última quinta feira de cada mês se reunia um grupo de cultivadores da cantiga (…)” (Sucena, 1992 as cited in Museu do Fado 2008).
De acordo com Machado (1937), João Maria dos Anjos seria “conhecido e apreciado cantador da velha guarda, e um dos mais aplaudidos ídolos do Fado” que terá começado “a cantar o Fado nos antigos retiros do João da Ermida, Tia Iria e José dos Pacatos, e, depois, no Ferro de Engomar, Pedralvas, Charquinho, Caliça, Perna de Pau, António da Rosa e Quinta da Montanha". “Cantou-o também nos teatros Luiz de Camões, Etoile, Trinas, Salão dos Anjos, Moderno e Coliseu da rua da Palma, e mais tarde no Coliseu dos Recreios, S. Luiz, Eden, Apolo e Gimnásio” e “foi várias vezes convidado a cantá-lo nas casas fidalgas do marquês de Fontes, conde de Fontalva e conde da Tôrre, no palácio e herdades do lavrador Palha Blanco, tendo ido cantá-lo também nas propriedades da Companhia das Lezírias, com os seus colegas e amigos Francisco Viana “Vianinha” e Custódio “Cutileiro”, acompanhados pelo guitarrista-concertista Armando Freire “Armandinho” e pelo violista Marinho, a convite do conhecido e opulento marchante Inácio dos Reis, assistindo a essa festa bastantes fidalgos que muito o aplaudiram” (Machado, 1937).
Em 1913, participou num concurso organizado pelo jornal A canção de Portugal, no Coliseu dos Recreios, Lisboa, onde obteve o 1º prémio e, em 1924, viria a repetir o feito com a conquista da medalha de ouro (1º lugar) no concurso de fados organizado no Coliseu dos Recreios pelo empresário Artur Emauz.
Marcou presença em diversos momentos culturais, nomeadamente na matiné dedicada à consagração ao fado, organizada pela Caixa Economica Operaria (31 de dezembro de 1916); na festa de A canção de Portugal (na 2ª parte, acompanhado por Carlos da Maia na guitarra e Pedro Rola na viola, a 5 de março de 1917); na festa humanitária promovida pel’A canção de Portugal e pel’O século a favor da Sopa dos Pobres, no Eden Teatro, Lisboa; na festa do Centenário da Severa, no Café Luso, Lisboa  (30 de novembro de 1946).
A 6 de maio de 1948 foi-lhe dedicada uma festa de homenagem no Salão Júlia Mendes, no Parque Mayer, Lisboa.
 
Ref. bib.
Gonçalves, J. (Dir.). (1917, March 25). Grande festa humanitária promovida pela Canção de Portugal. A Canção de Portugal : O Fado.
Gonçalves, J. (Dir.). (1917, February 25). A festa de A canção de Portugal. A Canção de Portugal : O Fado.
Machado, A. V. (1937). Ídolos do fado: cantadeiras e cantores, amigos do fado. Ídolos do fado: Biografias - comentários - antologia. Lisboa: Tipografia Gonçalves. Retrieved from http://purl.pt/28992/3/#/0
Museu do Fado. (2008, April 30). João Maria dos Anjos. Retrieved from http://www.museudofado.pt/personalidades/detalhes.php?id=311
Sousa, A. de C. (1916, October 29). João Maria dos Anjos. (J. Gonçalves, Dir.), A Canção de Portugal : O Fado.