His Master's Voice

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A His Master’s Voice foi, à data da sua fundação em 1910, uma subsidiária da Gramophone Company, sediada em Hayes, Middlesex – Reino Unido. A história deste selo discográfico começa, no entanto, uma década antes.
Em novembro de 1899, o pintor Francis Barraud vendeu, por £100 (em dois pagamentos de £50), os direitos de reprodução e o quadro do seu cão Nipper a escutar um gramofone à Gramophone Company. No mesmo ano, Emile Berliner, que estava diretamente relacionado com o processo de fundação da empresa, visitou os escritórios desta e reparou no quadro de Barraud. Imediatamente, Berliner contactou o pintor e pediu-lhe uma cópia do quadro, com vista à sua aquisição, registo e exploração nos Estados Unidos da América (EUA). O registo da marca foi conseguido através do Patent Office, a 10 de julho 1900. Posteriormente, foi-lhe associado o registo do nome: His Master’s Voice.
Demasiado tarde para Berliner a utilizar, dado que, à altura a sua própria companhia – a Berliner Gramophone Company, com sede em Filadélfia, Pensilvânia – EUA - representava pouco mais do que um nome, cedeu-a a Eldridge R. Johnson, seu sócio e fundador da Consolidated Talking Machine Company, sediada em Camden, New Jersey – EUA. Em 1901, esta empresa foi incorporada pela Victor Talking Machine Company, também com sede em Camden, e começou a utilizar a marca, com o nome His Master’s Voice como legenda da imagem nas etiquetas dos discos Victor e Monarch. Em paralelo, a Gramophone Company registou os direitos sobre a mesma imagem, originando uma estreita relação entre ambas as empresas e o início do processo de estabelecimento de um acordo de partilha de direitos que viria a estar concluído em 1919 (Martland, 1992).
Em 1910, a Gramophone Company deu início a uma agressiva campanha de promoção em torno dos produtos His Master’s Voice, reproduzindo a imagem nas etiquetas dos seus discos e chamando-lhes His Master’s Voice. Por volta de 1913, esta etiqueta seria utilizada, também, em posters, acessórios e catálogos, entre outros, numa grande estratégia de marketing lançada – e bem-sucedida – em vésperas da Primeira Grande Guerra. Esta jogada fez com que, quer a Gramophone Company quer a His Master’s Voice, beneficiassem de grande visibilidade à época. Um ano depois, em 1914, a manobra publicitária aliada a este uso intensivo da imagem de marca acoplada com as iniciais HMV, fizeram com que o grande público passasse a identificar a própria Gramophone Company como His Master’s Voice (HMV). Desta forma, tornou-se rapidamente numa das maiores etiquetas discográficas do mundo, controlando o grande mercado mundial, apenas partilhando significativamente o domínio com a Victor Talking Machine Company, com a qual repartia igualmente, além da imagem de marca, matrizes, técnicos de som e patentes.  Dada a extensão da presença da marca pelo mundo, muitos discos foram lançados sob traduções locais, surgindo gradualmente desta forma: em França “converteu-se” na La Voix de Son Maîte, em Itália na La Voce Del Padrone, em Espanha na La Voz de Su Amo e, mais tarde, em Portugal na A Voz do Dono.
Aproveitando o conceito criado em 1902 pelo ramo russo da Gramophone Company, a HMV possuía uma etiqueta vermelha, identificando a gravação por parte de artistas exclusivos - sobretudo intérpretes de música erudita e, especificamente ópera - que, por isso, originavam produtos de luxo. Enrique Caruso e Nellie Melba foram alguns desses artistas exclusivos. Paralelamente, fazia também parte da sua estratégia de expansão mundial, a gravação de repertório local, pelo que, desta forma, se viu facilitado o estabelecimento ou relacionamento com empresas de distribuição um pouco por todo o mundo.
Em Portugal, de acordo com Paul Vernon (1998), a HMV estabeleceu um contrato de representação com o Grande Bazar do Porto em 1927, sito na Rua de Santa Catarina, Porto – Portugal. Em 1928, o Grande Bazar do Porto estendeu-se a Lisboa, onde abriu uma filial na Rua Augusta (nº150-152), Lisboa – Portugal (Losa, 2014), cuja direção estava confiada a Frederico de Freitas. Em Portugal a procura estabeleceu um mercado centralizado na música popular, à semelhança do que a própria Gramophone Company já havia constatado durante as primeiras décadas do século XX.  
A 30 de novembro de 1931, a Gramophone Company (HMV) e Columbia Graphophone Company fundem-se para formar a Electric & Musical Industries (EMI), sediada em Londres – Reino Unido, mantendo, no entanto, a independência das suas principais etiquetas discográficas (HMV, Parlophone e Odeon). Mesmo após esta fusão, a HMV manteve-se como discográfica mais emblemática da EMI na Europa e Austrália. Em Portugal, esta reorganização levou ao desaparecimento de muitas lojas – como por exemplo, o Grande Bazar do Porto - devido às novas políticas empresariais instauradas pelo novo conglomerado (Losa, 2014).
Sendo utilizada pela afiliada RCA Victor nos EUA, muitos dos nomes mais emblemáticos do jazz gravaram sob o selo HMV (Benny Goodman, Duke Ellington, Fats Waller) e foram lançados, inclusive, noutros países, contribuindo amplamente para a divulgação do género.
Em 1957, aquando do término do acordo de licenciamento entre RCA Victor e EMI (originalmente estabelecido entre a Victor Talking Machine Company e a Gramophone Company), o catálogo HMV começou a concentrar-se cada vez mais em música clássica, sendo o seu repertório de cariz popular transferido para outras discográficas, sob a alçada da EMI, especializadas nesse género musical.
Hoje em dia, a HMV é uma marca sobretudo ligada ao comércio de produtos de entretenimento a retalho, com sede em Londres – Reino Unido. 
 
Ref. bib.
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