Manuel Cargaleiro

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Manuel Alves Cargaleiro, nasceu a 16 de março de 1927 em Vila Velha de Ródão, distrito de Castelo Branco - Portugal. É lá que fica o berço dos seus antepassados: os Ribeiro, Fernandes, Mendes, Alves e Cargaleiro que geração após geração, viveram da agricultura.
Manuel Cargaleiro começa, por volta dos seis ou sete anos, a desenhar centenas de desenhos que serão acompanhados de curtos poemas. Confeciona também pequenos objetos de argila que coze no forno de lenha da casa, antes de os pintar. Todas estas criações são destinadas exclusivamente ao seu próprio olhar.
Inscreveu-se na Faculdade de Ciências de Lisboa e chegou a trabalhar num banco, mas frequentava as aulas livres da Academia de Belas-Artes e o atelier de olaria de José Trindade. Em 1949 participou no I Salão de Cerâmica do SNI, vindo a receber o Prémio Nacional de Cerâmica em 1954, quando foi convidado para lecionar na Escola António Arroio. Como bolseiro do Governo italiano, estuda cerâmica em Faenza, Roma e Florença. Estagia mais tarde na Fábrica de Faiança de Gien, em França, com o patrocínio da Fundação Calouste Gulbenkian.
Em 1957 fixa residência e trabalha em Paris, encontrando-se representado em permanência na Galeria Albert Loeb. A partir do último quartel do século XX, Manuel Cargaleiro passa a reestabelecer contacto com Portugal, movimentando-se entre Lisboa, Monte da Caparica e Paris.
A 31 de Janeiro de 1990 criou em Lisboa a Fundação Manuel Cargaleiro à qual doou um vasto conjunto de obras. Exerce função de professor de cerâmica na Escola de Artes Decorativas António Arroio, em Lisboa. Possui ainda um atelier na Fábrica Viúva Lamego, em Sintra.
Em 2000, o artista começou a produzir cerâmica nas fábricas de Vietri sul Mare que resultaram na criação de placas e painéis de azulejos notáveis pela sua dimensão e resistência. Manuel Cargaleiro encontrou em Vietri uma sofisticação tecnológica ao seu dispor, uma nova fase na sua produção artística, um local onde pode inovar e inspirar artistas, alguns dos quais presentes na sua coleção. Reconhecendo a importância do artista para a região, o município de Vietri inaugurou em 2004, um espaço museológico com o seu nome – o Museo Artistico Industriale di Ceramica Manuel Cargaleiro, que em 2014 passa para novo espaço museológico, desta vez em Ravello, uma pequena cidade na província de Salerno, na costa de Amalfi na Campânia - região no sul de Itália. 
Na sua pintura pode distinguir-se um sentido ornamental e decorativo, a opção pela bidimensionalidade e a negação da profundidade, de tal maneira que o trabalho da tela se confunde com o dos azulejos, na repetição dos quadriláteros, nos azuis, na necessidade de um enquadramento. Nos seus azulejos, impera a espontaneidade da pincelada. Assume-os como obra de arte, datada e assinada. A obra de Cargaleiro representa a extroversão, a luminosidade, o otimismo e a sensualidade do carácter mediterrânico.

“Comecei a minha vida de artista como ceramista e sou ceramista mesmo quando faço pintura a óleo. Não consigo imaginar uma coisa sem a outra. As minhas duas práticas, claro que se influenciam mutuamente. Não posso esquecer todos os meus conhecimentos sobre a história da faiança ou sobre a decoração mural quando pinto, assim como não esqueço a minha cultura pictórica quando crio em cerâmica. Está tudo muito ligado e é isso que constitui a minha especificidade. Eu não copio os meus quadros nos azulejos: pinto diretamente sobre a faiança, sem desenho prévio, como numa tela.”
Ref. bib.
Manuel Cargaleiro, catálogo Gilbert Lascault, 2003