João Hogan

About
Pintor e gravador de ascendência irlandesa, João Manuel Navarro Hogan nasceu em Lisboa, a 4 de fevereiro de 1914, e faleceu na mesma cidade, no ano de 1988. Frequentou a Escola de Belas Artes apenas durante um ano tendo sido entretanto aluno de Frederico Ayres e discípulo de Mário Augusto (1937), quando estes dirigiam cursos noturnos de pintura na SNBA. Manteve-se autodidata, exercendo a pintura em paralelo com a marcenaria – sua profissão desde 1930 e por mais de 20 anos. Apresentará a sua obra publicamente pela primeira vez em 1942, na Exposição de Arte Moderna do SPN, Lisboa.
A sua pintura era, no início da sua carreira, essencialmente figurativa mas, após ter conseguido uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian, em 1958, para estudar pintura em Paris, o rumo da sua arte mudou criando um caminho próprio, baseado em superfícies e volumes simplificados. A sua obra ficará tematicamente associada à representação da paisagem, prendendo-se desde logo com a longa tradição naturalista nacional. “A minha paisagem nasce dentro e debaixo da terra. O céu nunca me interessou, e às vezes até o corto” (João Hogan, 1985). Mas se as primeiras obras revelam a sua "admiração por Silva Porto, Columbano ou Malhoa". Pintando ao ar livre nos arredores de Lisboa e mais tarde na Beira Baixa, cedo criou um estilo próprio, marcando um percurso isolado no panorama artístico nacional. De formas sólidas e rigorosas, construídas na busca da síntese, as suas paisagens inconfundíveis mostram um profundo interesse pela vastidão e rudeza da terra. Representando lugares inabitados, imanam um silêncio cheio de significações, enfatizado pela ausência da figura humana. Nos anos 40 as paisagens, de cores fortes e contrastantes em largos planos monocromáticos, têm ainda uma raiz naturalista. Na década de 50 tornar-se-ão mais sombrias, pela adoção de uma paleta de terras, ocres e inúmeros verdes, que o pintor não mais abandonará. Participando em exposições coletivas a partir de 1942 e expondo individualmente desde 1951, Hogan percorreu nos anos 50 um período de experimentações. Motivado pela pintura dos expressionistas alemães produziu obras de expressiva força  matérica, mas que revelam dificuldades na tentativa de introdução da figura humana na paisagem. Comungando das preocupações humanistas dos pintores neorrealistas, realizou ainda nessa década obras de teor mais social, representando locais de trabalho. Deste período experimental a sua pintura preservará o dramatismo e riqueza táctil da matéria, despindo a realidade de tudo o que é superficial. Em 1957 começou a trabalhar em gravura, sobre a influência de William Hayter, de quem foi aluno. Se as primeiras gravuras, realizadas em madeira, têm ainda um cunho realista, as gravuras em cobre – incluindo o acaso proporcionado pelo ácido e influências do surrealismo – atingem um enorme grau de irrealidade, fantasia e mesmo humor. Dedicando-se até 1975 a esta técnica, criou uma obra extremamente lírica, de enorme diversidade, verdadeiramente autónoma da obra de pintor. Foi sócio fundador da Sociedade Cooperativa de Gravadores Portugueses, em Lisboa, onde dirigiu diversos cursos de gravura, tendo um papel importante na formação das gerações mais novas (muitos dos acuais gravadores de Portugal foram seus alunos)
Bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian em Paris em 1958, viajou nesse ano, vendo pintura surrealista principalmente na Bélgica. Realizou a partir de 1960 ilustrações para livros. Em 1961 foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian em Portugal. No início dos anos 60 a pintura de Hogan, de formas cada vez mais depuradas e sombrias, distanciou-se definitivamente do naturalismo, num processo a que não foi alheia a sua experiência de gravador. As suas paisagens, incluem elementos como pontes, pedreiras, caminhos, aquedutos, que progressivamente se simplificam até se tomarem quase abstratos. Abandonando a prática de pintura ao ar livre Hogan compõe, a partir desta altura, baseando-se em fotografias e slides que corta, seleciona, sobrepõe, conferindo mais do que nunca às suas paisagens o carácter de construção. Volumes arredondados de cores frias, por vezes transparentes, evocam paisagens irreais do fim do mundo. Escolhido em 1971 para realizar um dos quadros que decoram o café A Brasileira no Chiado, em Lisboa, formou em 1976 o grupo 5 + 1, que expôs nesse ano em Lisboa e em Viena, com os pintores Teresa Magalhães, Júlio Pereira, Sérgio Pombo, Guilherme Parente e o escultor Virgílio Domingues. Professor de pintura na ARCO entre 1976 e 1978 e de gravura entre 1979 e 1981 – data em que se aposentou – Hogan produziu pelos anos 80 dentro paisagens que ele próprio vinha definindo como “de subconsciente”. Expôs individualmente em Lisboa cerca de 20 vezes, entre 1951 e 1958 e no Porto, em 1951, 1971 e 1973. Em 1983 realizou-se em Beja a 1ª Retrospetiva da sua obra. Participou ao longo da carreira em cerca de uma centena de exposições coletivas no país, entre as quais: Exposições do Secretariado de Propaganda Nacional, de 1942 a 46; Exposições na Sociedade Nacional de Belas Artes, a partir de 1947; I, II e III Exposições de Artes Plásticas da F. C. Gulbenkian, em 1957, 1961 e 1986. Premiado com as 3ª e 2ª medalhas da Sociedade Nacional de Belas Artes em 1949 e 1950, recebeu ainda: I e II Prémios do Posto de Turismo da Costa do Sol, em 1956 e 1957; II Prémio na 2a Exposição de Artes Plásticas de Almada, em 1957; Prémio Lisboa em 1957; Prémio C.M. de Vila Real em 1958; Prémio José de Brito em 1959; I Prémio da Fundação Calouste Gulbenkian em 1961; Prémio Silva Porto em 1964; Menção Honrosa na Exposição Mobil de Arte, em 1970. Representou Portugal em mais de 40 exposições no estrangeiro, principalmente em bienais de gravura. Morreu em Lisboa a 16 de Junho de 1988, sendo nesse ano homenageado na I Bienal de Gravura da Amadora. Em 1989, realizou-se na Galeria João Hogan, na Voz do Operário em Lisboa, uma Exposição Homenagem e em 1990 foi instituído o prémio João Hogan. Em 1992 a Fundação Calouste Gulbenkian organizou uma exposição antológica da sua obra.