Fernando Lanhas

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Fernando Resende da Silva Magalhães Lanhas nasceu no Porto Porto, em 16 de setembro de 1923.
No ano 1947 termina os estudos em Arquitetura, na Escola de Belas Artes do Porto. Nesta mesma instituição dirigiu o Grupo de Estudantes de Belas Artes, tendo por colegas Nadir Afonso e Júlio Pomar. Inicialmente figurativas, as suas obras rapidamente se transformaram em obras abstratas. Envolveu-se na organização das Exposições Independentes dos Alunos da ESBAP, em 1944, e colaborou na página "Arte" do jornal diário do Porto, "A Tarde", em 1945. Viajou até Paris, onde visitou e desfrutou de importantes certames de Arte, como o Sallon des Réalités Nouvelles, em 1947.
Entre 1948 e 1951 publicou desenhos na Portucale, Revista de Cultura Literária, Científica e Artística, e participou em várias exposições. Em 1951 entrou no concurso para professor do Ensino Técnico Profissional e realizou provas para obtenção do Diploma de Arquiteto. Nesse ano, em colaboração com os arquitetos Viana de Lima, Arménio Losa e Cassiano Barbosa, organizou uma exposição de Arquitetura, impulsionada pela Organização dos Arquitetos Modernos, que teve lugar no Porto e, no ano seguinte, em Aveiro, e fez, ainda, o mapa do diagrama da cor das obras do pintor Dominguez Alvarez.
Em 1953 expôs em Lisboa, no Brasil e em Veneza, desenvolveu vários projetos arquitetónicos e começou a fazer colagens. No ano seguinte, dirigiu os números 1 e 2 das Publicações de Arte Contemporânea e participou no I Salão de Arte Abstrata. Em 1956 ocupou o cargo de arquiteto estagiário na Escola Superior de Belas Artes do Porto e, entre 1958 e 1962, centrou-se no projeto a "Casa do Espaço".
Desde os anos 60 desenvolveu o gosto pelo estudo nessa área do saber. Em 1963 elaborou o "Quadro Geral do Universo", em 1965 construiu um modelo reduzido do "Grupo Local das Galáxias", no final da década de sessenta estudou a hipótese de um universo com predomínio progressivo de um vão central; nos anos 70, na atual Escola Secundária Garcia de Orta, criou a Sala de Cosmografia, a primeira sala deste género no país, reconhecida pela NASA devido à sua importância didática e que motivou o convite feito a um aluno daquele Liceu para estar presente no lançamento da nave Apollo14. Infelizmente, esta sala desapareceu no período pós 25 de Abril de 1974. Neste ano, construiu um "Cosmoscópio", um livro onde reuniu programas sobre acontecimentos do universo e, em 1982, instalou no Museu Municipal de Paredes, um Diorama de Astronomia; em simultâneo, elaborava a "Carta das distâncias entre o Sol e algumas estrelas".
Como arqueólogo amador também deixou a sua marca, realizando o "Inventário dos lugares com interesse Arqueológico", que começou a ser publicado em 1965 em colaboração com D. Domingos de Pinho Brandão. Em ligação com a Arqueologia também se interessou pela Paleontologia, Biologia e Geologia. Em 1968 elaborou um estudo sobre a sinalização dos Monumentos Arqueológicos. Em 1969 publicou artigos a propósito das investigações por si realizadas na Revista de Etnografia. Em 1970 participou no II Congresso Nacional de Arqueologia, realizado em Coimbra. Em 1971 publicou estudos nas atas deste congresso, em parceria com D. Domingos de Pinho Brandão. Em 1972 participou nas II Jornadas Arqueológicas, em Lisboa. Das suas descobertas arqueológicas podem referir-se, entre outras, o Castro de S. Paio, em Labruge (1967) e a gravura rupestre no Monte da Luz, na Foz do Douro (1972).
O gosto pela Museologia, que nascera nos seus tempos de estudante, foi reavivado durante os anos 80. Projetou e executou montagens de coleções no Museu Municipal da Figueira da Foz, no Museu Monográfico de Conímbriga, no Museu Militar do Porto e na Biblioteca-Museu Municipal de Paredes. Planeou, também, o Museu de Mineralogia da Faculdade de Ciências do Porto e o Centro de Arte e Cultura Popular, em Via Nova de Famalicão.
 
Quando Fernando Lanhas fez 82 anos, a Escola Superior de Belas Artes comemorava o seu 225º aniversário de Ensino das Belas Artes. Nesta conjuntura, surgiu a proposta da FBAUP de homenagear o seu antigo estudante, Fernando Lanhas, conferindo-lhe o título de doutor Honoris Causa pela Universidade do Porto. Foi um homem de múltiplos interesses. Arquiteto de formação, foi igualmente pintor, desenhador, poeta, arqueólogo, astrónomo e colecionar por vocação.
Na sua faceta de arquiteto prestou grande atenção ao desenho e preferência pelas formas simples e funcionais, deixando transparecer influências da Bauhaus. Gostou de projetar moradias urbanas, modernas, mas respeitadoras da tradição, e espaços museológicos de forte pendor pedagógico. Entre as muitas que realizou, destacam-se as seguintes obras: o projeto nunca realizado da Casa do Espaço (1958-1962); Prédio de Rendimento, Porto (1957); Moradias no Porto e em Espinho (1959, 1970); Pavilhão de Exposições de Matosinhos (1964); Museu Monográfico de Conímbriga (1982) e Centro de Arte e Cultura de S. Pedro de Bairro, em Famalicão (1986).
Apesar de não ser considerado um pintor, é tido como um dos pioneiros da abstração geométrica em Portugal. A obra 02-44 ou O Violino, exposta pela primeira vez em 1945, na III Exposição Independente, em Lisboa, e que hoje integra a coleção da CAM, é um marco histórico na pintura portuguesa. Numa época em que muitos artistas seguiam a corrente neo-realista, Lanhas escolheu um caminho revolucionário. A sua obra pictórica é feita de aguarelas, serigrafias, pinturas sobre seixos rolados, colagens e xilogravuras. Na área do desenho, insere-se na família dos grandes desenhadores modernos, aliando a capacidade de expressão ao virtuosismo da forma. Embora não se reclamando um poeta, foi autor de composições caracterizadas por um grande rigor formal e pela contenção da ideia. Desde muito cedo preocupou-se em registar os sonhos do próprio sonhador.
O interesse pela arqueologia e astronomia teve origem na sua busca incessante pelas origens, que estendeu ao colecionismo. Foi um colecionador de fósseis, seixos, areias de diversas partes do mundo, rochas, brinquedos, rótulos, anúncios, etc. Reuniu e criou coleções devidamente rotuladas e também se interessa por fotografia, sobretudo antiga.
Morreu em sua casa no Porto, a 4 de fevereiro de 2012, vítima de um acidente vascular cerebral.