Artur Paredes

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Artur Paredes nasceu a 10 de maio de 1899 na freguesia de Santa Cruz, Coimbra – Portugal e faleceu a 20 de dezembro de 1980 na freguesia dos Anjos, Lisboa – Portugal.
Foi compositor e guitarrista, tendo atuado sobretudo como solista em agrupamentos instrumentais. Enquanto acompanhador, fez-se ouvir ao lado de nomes como António Menano, Armando Goes, Edmundo Bettencourt, Lucas Junot e Paradela de Oliveira.  Dedicou-se ao estudo da morfologia da guitarra portuguesa a partir da década de 20, tendo contribuído com grandes inovações para a definição da guitarra de Coimbra. Atuou de forma igualmente decisiva na configuração da linguagem instrumental da Canção de Coimbra, na criação de um novo repertório solista, na inovação das técnicas de execução e na conceção do relevo da guitarra portuguesa enquanto instrumento de acompanhamento.
Filho de Maria do Céu e de Gonçalo Rodrigues Paredes, nasceu no seio de uma família ligada à música e, em específico, à guitarra portuguesa e à Canção de Coimbra. O pai, Gonçalo Paredes e o tio, Manuel Paredes, ambos excelentes guitarristas daquela cidade, fizeram parte da Troupe Musical Infante da Câmara e iniciaram-no precocemente na guitarra portuguesa.
Iniciou os estudos no Colégio Mondego, no Pátio da Inquisição, Coimbra, onde tirou o Curso Comercial. Tendo ficado isento do serviço militar, exerceu funções de ajudante de notário em Coimbra, de 1919 a 1922. A 11 de março de 1922, ingressa no Banco Nacional Ultramarino, em Coimbra, como empregado bancário. Apesar de não ter frequentado o ensino universitário, era frequentador assíduo dos círculos académicos em Coimbra, devido ao reconhecimento do seu mérito artístico e contributo para a canção coimbrã. Participou, assim, assiduamente, em saraus e eventos académicos. De igual modo, efetuou digressões nacionais e internacionais com organismos académicos como o Orfeon Académico de Coimbra (OAC) e a Tuna Académica da Universidade de Coimbra (TAUC).
A partir da década de 20, começou a trabalhar de perto com construtores de guitarras: primeiramente com Raul Simões, com quem definiu basilarmente as linhas a reformar na guitarra portuguesa de Coimbra e, posteriormente, com a família Grácio. Destas colaborações, resultaram diversas alterações à morfologia do instrumento que, combinadas, deram origem à constituição e timbre característicos da guitarra de Coimbra. As dimensões das ilhargas da caixa de ressonância tornaram-se maiores, facilitando o aumento da projeção sonora do instrumento; o aumento da escala, a alteração do desenho do cavalete, o tratamento das madeiras e a colocação de travessas possibilitaram, em conjunto, o aumento do campo harmónico, a descida da afinação do instrumento em um tom e uma melhor ergonomia ao nível da mão esquerda, divergindo, assim, da sua congénere de Lisboa. Este viria a ser um processo longo, apenas concluído em meados dos anos 40.
Em 1924, Artur Paredes casou-se na freguesia da Sé, em Bragança – Portugal, com Alice Candeias Duarte Rosas, licenciada em Histórico-Filosóficas e, um ano mais tarde, viria a ser pai de Carlos Paredes, outro aclamado intérprete da guitarra portuguesa. No mesmo ano (1925), viajou para o Brasil como “artista adjunto” da TAUC.
Em maio de 1927, deslocou-se a Lisboa - Portugal, inserido num grupo de músicos de Coimbra, com o objetivo de gravar para o Grande Bazar do Porto/ His Master’s Voice. Neste grupo constavam, também, José Paradela de Oliveira e Armando Goes.
Paredes. Acompanhado por Afonso de Sousa na segunda guitarra e Guilherme Barbosa na viola, interpretou oito temas nessa ocasião. Nesse conjunto de temas incluía-se uma versão instrumental do Fado Hilário de Augusto Hilário, Bailados do Minho de Antero da Veiga, três variações e também Fantasia, ambas da sua própria autoria. Alguns anos mais tarde, entre 1930 e 1933 ver-se-ia envolvido em litígios com o Grande Bazar do Porto/ His Master’s Voice, relativamente ao pagamento de direitos de autor sobre discos seus lançados nos Estados Unidos.  
Em 1929, deslocou-se a Sevilha – Espanha, na qualidade de solista e acompanhador, no âmbito da Exposição Ibero-Americana, e atuou na inauguração do Pavilhão de Portugal, com a Embaixada Artística da Academia de Coimbra. Esta contou, para o evento, com Afonso de Sousa, guitarra; Guilherme Barbosa, viola; e António Menano, voz, como restantes elementos.  
Em 1934, Artur Paredes foi promovido e transferido para a sucursal do Banco Nacional Ultramarino em Lisboa, cidade onde, com a esposa e o filho, fixou residência e continuou a atividade de palco, muitas vezes acompanhado por Carlos Paredes e Arménio Silva.
Anos mais tarde, surgiu a oportunidade de liderar o programa semanal de fados e guitarradas, emitido pela Emissora Nacional, no qual, ocasionalmente colaborou o seu filho, Carlos Paredes.
Na década de 60, retirou-se dos palcos para viver os últimos anos da sua vida em crescente isolamento, apesar de continuar a ser muito solicitado e visitado, nomeadamente, por nomes como Teotónio Xavier, Frias Gonçalves, Carlos Figueiredo e Octávio Sérgio.
Artur Paredes, não só reinventou a guitarra coimbrã ao nível organológico, como também contribuiu estilisticamente para a renovação da Canção de Coimbra e da respetiva música instrumental. Ficando reconhecido pelo virtuosismo técnico e pela originalidade composicional, explorou as potencialidades do instrumento: desenvolveu uma técnica de dedilhação própria, com a qual executava motivos complexos, com clareza, em andamento rápido, de ataque forte, e criava texturas sonoras densas, mas claras ao nível da estrutura formal, melódica, harmónica e rítmica, aliando a técnica à musicalidade. Reconstruiu, também, a arte de acompanhar as vozes dos cantores, adindo introduções e interlúdios instrumentais, mas mantendo, no entanto, a sua principal função: suporte harmónico e rítmico.
Constituiu, assim, a chamada escola de Coimbra, que representou ponto de partida a guitarristas que lhe sucederam, como foi o caso de António Brojo, António Portugal, Jorge Tuna e Carlos Paredes. Ficou, no entanto, conhecido também por evitar a transmissão dos conhecimentos e técnicas que desenvolvia.
 
Ref. bib.
Carvas, A., & Caseiro, V. (2010). Paredes, Artur. In S. Castelo-Branco (Dir.), Enciclopédia da música em Portugal no século XX (pp. 967–968). Lisboa: Círculo de Leitores/ Temas e Debates.
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